Por Juliana Castelo
“Palavrão? Aqui em casa, não!”, diz a avó do pequeno Henry Alexandre, de 8 anos. Voltando da escola, ele repetiu um xingamento que ouviu entre os colegas e logo foi corrigido por ela. “Ouvir aquela palavra feia dele me incomodou muito. Quando ouvi de novo, chamei para uma conversa. Não concordo que crianças xinguem”, conta Marylourdes Lindoso, 56, que também não gostou nada de saber da trend do palavrão viralizando nas redes sociais.
O hit que bombou no Tik Tok causou polêmica entre os internautas, ao mostrar os pais levando os filhos para um cômodo da casa explicando que quando saíssem, os pequenos podiam falar todos os palavrões que conhecessem. Então, deixam o celular gravando e saem do local. O resultado? Algumas crianças não sabiam nada, outras mostraram que conhecem vários xingamentos. Afinal, estimular essa prática prejudica ou não?
A psicóloga e professora do Centro Universitário Estácio São Luís, Yram Miranda, analisou a trend e afirma: existem sim riscos para o desenvolvimento infantil, especialmente no que diz respeito ao aprendizado de regras. “Não fica claro para a criança se as palavras passaram a ser permitidas ou não pelos pais. E mais: não fica claro se é permitido falar na ausência destes, ou seja, gera confusão. Ainda por cima, o adulto informa à criança que se trata de algo secreto, quando o que ele faz é expô-la na internet, quebrando o vínculo e a confiança estabelecida”, explica.
A avó de Henry também opinou sobre os vídeos que assistiu e opina que ensinar uma criança a repetir palavrões não pode ser algo correto. “Se meu neto, que é pequeno, pensar que pode xingar desse jeito, vai crescer ofendendo e constrangendo as pessoas ao redor. E essa lição eu faço questão de ensinar. Estou de olho para que não fique mais repetindo e entenda que não é nada legal ter a boca suja”, afirma Marylourdes.
Frustração, raiva, surpresa… existem formas certas de expressar as emoções e, segundo a especialista, a “brincadeira” em nada ajuda nessa missão. “A trend não trata de mostrar formas de expressar a frustração de crianças e é justo essa uma das problemáticas. Quando frustrada, a criança deve ser estimulada a expressar sua insatisfação em palavras claras e ter suas emoções validadas. O papel dos pais é mostrar a ela o que é permitido fazer nessas situações e o que não é permitido”, finalizou a psicóloga.