Desde que foi lançada, a cerca de um mês, a operação dobrou o número de ambulâncias em áreas densamente povoadas no oeste de Serra Leoa, o país mais afetado pela epidemia, onde mais de 3 mil pessoas morreram.
Entre as medidas estão a checagem da temperatura de tripulantes de veículos pela polícia em postos de controle, enquanto cartazes foram espalhados com a inscrição na língua local krio: “Juntos podemos parar o Ebola”.
Como resultado, o vírus da febre hemorrágica reduziu rapidamente seu ritmo de transmissão em Serra Leoa, onde mais de 10 mil casos foram registrados desde maio. Apenas 184 novos casos foram registrados na semana terminada em 11 de janeiro –o menor número em cinco meses.
Mais da metade dos leitos em centros de tratamento por toda Serra Leoa encontram-se agora vazios –um flagrante contraste diante do pico da epidemia, em novembro, quando os centros de saúde em Freetown ficaram lotados e pacientes tinham que esperar dias por uma ambulância, enquanto corpos permaneciam sem sepultamento ou eram enterrados secretamente em quintais.
A mudança no quadro levou o presidente Ernest Bai Koroma a dizer que acredita que seu governo –ajudado por cerca de 800 soldados britânicos e mais de 450 milhões de dólares em auxílio internacional– pode registrar o último caso de Ebola em Serra Leoa até o fim de março.
Alguns especialistas de saúde e trabalhadores de ajuda humanitária mostram-se mais cautelosos.
Eles esperam que o sucesso em Freetown e seus arredores representa um grande passo para derrotar a doença –que já matou mais de 8,4 mil pessoas–, agora que Libéria e Guiné também parecem ter estabilizado a disseminação do Ebola, mas demonstram cautela em decretar o fim do surto que em abril passado parecia perder força na Guiné, mas que depois retornou com ferocidade.
“O problema de Serra Leoa é fazer a curva. Acho que vamos nos aproximar de zero até março por lá, contando que não haja surpresas”, disse Philippe Maughan, um dos principais gestores das operações contra o Ebola na Echo, braço de ajuda humanitária da Comissão Europeia.
“Mas… vão aparecer casos aqui e ali pelos próximos seis meses a um ano, e vamos precisar lidar com ele”, acrescentou.
BOLSÕES DE RESISTÊNCIA
O Centro Nacional de Resposta ao Ebola, um novo órgão em moldes militares presidido por Koroma, lançou a “Operação do Surto da Área Oeste” no mês passado em Serra Leoa –país com seis milhões de habitantes em que as principais indústrias são a pesca e agricultura, mas com enormes reservas minerais a serem exploradas.
O principal cemitério de Freetown foi expandido e os corpos das vítimas de Ebola, altamente contagiosos, são enterrados em covas profundas em no máximo 24 horas, de acordo com os rígidos protocolos de combate à transmissão.
O Ebola se espalha por meio do contato com fluídos corporais de pessoas infectadas ou do corpo de alguém que tenha morrido da doença.
O centro de combate ao Ebola destaca alguns bolsões de resistência à luta contra a doença na capital, o que as autoridades atribuem à desconfiança suscitada pela fraca resposta inicial, antes do surto maior.
VALORES CULTURAIS
Tem se provado mais difícil modificar as atitudes em Freetown do que em áreas rurais, apesar da alta densidade de casos na cidade, de uma em cada 300 pessoas – um fator que normalmente levaria a uma maior conscientização.
Em novembro, uma pesquisa mostrou que menos da metade dos entrevistados em Freetown e arredores possuíam conhecimento suficiente sobre o Ebola – o menor nível em todo o país.
“Em Freetown, muitos vivem vidas nômades, então a possibilidade de transmissão das mensagens corretas é menor do que em distritos rurais”, disse o antropólogo britânico Paul Richards, que possui 30 anos de experiência em Serra Leoa.
Ele disse que algumas pessoas resistem porque o combate à transmissão fere relevantes valores culturais: “Você tem que abandonar algumas características básicas atribuídas a uma pessoa boa -visitar os doentes e dar tratamento decente aos mortos.”
Edição: Veja Timon
Imagem/via: Reuters