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Prisão sem grades: consumo de álcool e drogas segue em alta

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No Maranhão, 85% dos dependentes químicos começaram pelo álcool e hoje usam crack

Reportagem/Jherry Dell’Marh

P.A.S.D., de 27 anos, morador do bairro da Cidade Operária, em São Luís, conhece de perto o peso da dependência química. “Eu nem sei explicar direito como foi que cheguei nesse ponto. Comecei fumando maconha assim, de brincadeira, com os amigos. Depois foi o crack, e agora tô agarrado mesmo no álcool”, conta. A trajetória dele é marcada por tentativas de recuperação. Já buscou ajuda no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CapsAD) duas vezes e passou por três internações. No entanto, o retorno para casa sempre representa um novo desafio. “A família diz que quer ajudar, mas quando eu chego, parece que ninguém me conhece mais. A mudança é grande, eu sei, mas eu não consigo só”, lamenta.

Dados do Observatório da Saúde Pública revelam que o consumo de álcool e drogas no Brasil se mantém em níveis elevados desde 2006. De 2006 a 2023, o percentual de adultos nas capitais que ingerem bebida alcoólica pelo menos uma vez por semana permaneceu acima de 25%. O abuso do álcool está associado a mais de três milhões de mortes anuais no mundo e representa um fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis, como câncer e problemas cardiovasculares.
Já um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de 2020 revelou que 4,9 milhões de brasileiros usaram substâncias ilícitas no ano anterior, sendo 5% homens e 1,5% mulheres dependentes químicas. A experimentação de drogas entre adolescentes de 13 a 17 anos também cresceu, passando de 8,2% em 2009 para 12,1% em 2019, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do IBGE.
No Maranhão, segundo dados do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, a realidade segue a tendência nacional. Cerca de 85% dos pacientes que buscam tratamento são dependentes de crack e começaram pelo consumo de álcool e maconha. Outros 10% são exclusivamente dependentes do álcool, enquanto 5% utilizam outras substâncias, como medicamentos e maconha.
DEPENDÊNCIA
O psicólogo da Hapvida, Jediael Abreu, explica que reconhecer os sinais precoces da dependência química é essencial para uma intervenção eficaz. Mudanças súbitas de comportamento, como irritabilidade e oscilações de humor sem uma causa aparente, podem ser os primeiros indícios. “O isolamento social é um alerta importante. O indivíduo começa a se afastar de familiares, amigos e abandona atividades que antes considerava prazerosas”, explica o especialista. Outros sinais incluem negligência com responsabilidades, queda no desempenho acadêmico ou profissional e aumento da tolerância à substância.
Para aqueles que percebem esses sintomas em um ente querido, a abordagem correta pode fazer diferença. “A empatia e a escuta ativa são essenciais. Demonstrar preocupação genuína, sem julgamentos, facilita o diálogo e reduz a resistência da pessoa em aceitar ajuda”, orienta Jediael Abreu. Escolher um ambiente adequado, descrever situações concretas e oferecer apoio sem discursos moralistas também são passos fundamentais para um encaminhamento ao tratamento.
O acompanhamento psicológico tem um papel essencial no processo de recuperação, e diferentes estratégias podem ser aplicadas. “A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é eficaz para ajudar o paciente a identificar e modificar padrões de pensamento que alimentam o vício”, destaca o psicólogo. A entrevista motivacional também pode fortalecer a vontade de mudança e reduzir a resistência ao tratamento. Além disso, a prevenção de recaídas, com planos para lidar com situações de risco, é essencial para a continuidade da recuperação.
A dependência química é considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), afetando não apenas o usuário, mas também sua família e sociedade. O alcoolismo, uma das formas mais comuns, é uma condição crônica caracterizada pelo consumo compulsivo da substância, levando a tolerância aumentada e sintomas de abstinência. Além da predisposição genética, fatores psicológicos, sociais e culturais podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno.
P.A.S.D. ainda busca forças para superar a dependência, mas enfrenta desafios diários. “Eu queria sair dessa vida, mas é difícil demais. Quando eu volto, encontro o mesmo povo, os mesmos problemas, a mesma tentação. Aí, não demora muito e eu caio de novo”, desabafa. A luta contra a dependência é árdua, mas com suporte adequado e um ambiente acolhedor, há esperança de um novo começo.

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