Abusos psicológicos são mais difíceis de detectar, mas também deixam sequelas nas vítimas
Por Elainy Castro
“Eu estou aqui para fazer um alerta antes que seja tarde. Quem está envolvido em um relacionamento talvez nem perceba, talvez ache que é normal, mas quem está ‘de fora’ consegue enxergar quando os limites estão prestes a ser gravemente ultrapassados”. Esse foi um trecho do discurso feito pelo apresentador do Big Brother Brasil, Tadeu Schmidt, referindo-se ao relacionamento entre os participantes do reality show, Bruna Griphao e Gabriel Fop.
Nas cenas transmitidas nacionalmente, Gabriel pega com força no braço de Griphao. Ele a empurra, diz “eu sou mudo ou você é surda?” e também ameaça: “Já, já, vai tomar umas cotoveladas na boca”. Nas redes sociais, não faltou quem apontasse o caráter abusivo do relacionamento e a repercussão foi tanta que a direção do BBB decidiu se posicionar. Mas e na vida real, quando não existe um apresentador para alertar que a relação em que você está não é saudável? Como identificar se aquele é um ambiente abusivo?
Os abusos físicos costumam ter sinais mais óbvios. Os indícios de abuso psicológico, no entanto, podem ser mais difíceis de identificar. Isso porque a parte abusiva da relação consegue fazer com que o parceiro questione a própria sanidade e se sinta culpado, num processo conhecido como gaslighting.
O psicólogo do Grupo Hapvida NotreDame Intermédica, Carol Costa Jr., diz que, no início do relacionamento, é comum haver uma atmosfera de encantamento. O cenário só muda tempos depois. “No começo, há um engajamento. Depois, o que era muito bom passa a ser tóxico e quem está envolvido não consegue perceber. É quando o parceiro começa a subjugar ou querer, até mesmo, ser dono da outra pessoa”, explica.
Estar atento aos sinais, desde o início da relação, é importante para evitar casos como os crimes de feminicídio, por exemplo. No Maranhão, em 2022, a Polícia Civil, através do departamento especializado, registrou 66 ocorrências no estado.
Esse não é o primeiro caso de abuso psicológico dentro do BBB. Quem não se lembra da relação entre o médico Marcos Harter e a jovem Emilly Araújo, na edição de 2017, em que ela reclamava que ele apertava seu braço e a encurralava contra a parede?
“Relação em constante medo não é normal. Seu companheiro pedir que você se afaste dos amigos e familiares, ainda que com um tom amigável, também pode ser um sinal de alerta”, reforça o profissional.
O psicólogo Carol Costa Junior enfatiza que é importante estar atento ao funcionamento do próprio cérebro, porque a pessoa que quer enxergar apenas coisas boas não consegue perceber a realidade.
“A pessoa envolvida vê a flor, mas não consegue enxergar os espinhos naquela flor. Isso não é uma tarefa fácil, por isso é importante mapear o comportamento do outro e o seu também. Caso se configure uma dinâmica de relacionamento abusivo, busque ajuda”, enfatiza Carol, reforçando a importância do apoio de amigos e auxílio profissional nesse momento. “Busque terapia. Um psicólogo terá as ferramentas e o conhecimento necessário para ajudar você neste momento”, finaliza.