Os relatórios parciais da Comissão da Verdade da União Nacional dos Estudantes (UNE) foram debatidos hoje (2) durante a nona bienal da entidade, que ocorre até sexta-feira (6), no Rio de Janeiro.Foram apresentados casos como o do estudante Fernando Santa Cruz, da Universidade Federal Fluminense, desaparecido em 1974, e o do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, assassinado pela ditadura militar em 1968. O objetivo foi apresentar às novas gerações um pouco da história de repressão sofrida pelo movimento estudantil.
O o ex-presidente da UNE Aldo Arantes (1961-1962), disse que é muito importante que todos os segmentos da sociedade façam levantamento sobre o que ocorreu durante o período da ditadura militar (1964-1985), principalmente em um setor tão atingido como o estudantil. Segundo ele, isso tem sido feito com líderes sindicais e estudantis e advogados, sobretudo nessa situação concreta, a da ditadura, em que houve assassinatos, tortura e censura.
“Conhecer a história é a melhor forma de impedir que isso volte a ocorrer. E é necessário que a juventude, o povo, tome conhecimento disso para combater certas tendências que passam a surgir, inclusive com setores que defendem o retorno da ditadura militar”, afirmou Arantes, lembrando que aquele foi um período de retrocesso tanto econômico quanto social e também “do ponto de vista político, com os assassinatos, a violência que foi praticada”. Para ele, como a juventude brasileira sempre tem história de participação social e compromisso com as mudança, acaba pagando “um preço pesado”.
A vice-presidenta da Comissão de Anistia, Sueli Bellato, destacou que, além de revelar a história do ponto de vista das vítimas, ainda é preciso esclarecer a participação de agentes da repressão infiltrados no movimento estudantil. “A estrutura que foi formada na época da repressão para legalizar a função do olheiro, a função do delator, ainda precisa ser esclarecida, porque muitos estudantes cumpriram um papel que não era de estudante, mas de agente da repressão. Isso fez com que muitos jovens fossem punidos injustamente e ilegalmente”, disse Sueli. Para ela, é fundamental saber se na estrutura atual há alguma herança do passado que deva ser sanada, para que nada se repita.
De acordo com a presidenta da UNE, Vic Barros, a Comissão da Verdade da entidade que representa dos estudantes já lançou alguns relatórios parciais sobre casos como o do estudante da Universidade de Brasília (UnB) Honestino Guimarães, ex-presidente da UNE, assassinado pela ditadura militar; e de Lenira Resende, aluna da Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidenta da UNE, morta na Guerrilha do Araguaia. Além desses casos, o debate lembrou a história da sede da UNE, no Rio, incendiada pela repressão, em 1964.
Vic Barros disse que o debate de hoje teve o propósito de fazer um diálogo que pudesse adicionar mais informações, mas também apresentar um pouco do que a sede da UNE representa na história do movimento estudantil; a história de ataques que ela, um espaço de reunião do poder jovem brasileiro, vem sofrendo. “Neste momento, uma contribuição que a gente dá para o resgate da memória é a reconstrução da sede, na Praia do Flamengo 132, com projeto doado por Oscar Niemeyer, que voltará a ser um grande ponto de encontro do movimento estudantil.”
A UNE pretende lançar o relatório final da comissão na forma de livro no próximo Congresso Nacional dos Estudantes, previsto para junho.
Edição: Veja Timon
Via: Agência Brasil