A relação dos casos de microcefalia (cérebro menor do que o normal) com o zika vírus deixou gestantes e mulheres que querem engravidar apreensivas. Não é para menos: o próprio ministro da Saúde disse que quem quiser ter um filho agora deve redobrar os cuidados.
O vírus zika é transmitido pelo mosquito da dengue (Aedes aegypti) e também tem sintomas parecidos com os da doença endêmica, embora mais suaves. Há casos em que a febre zika, como ficou conhecida, nem apresenta sintomas. Os sintomas se resumem a febre, náuseas, dores e manchas pelo corpo que desaparecem em até cinco dias.
Como o surto do zika batia com nove meses antes dos bebês com microcefalia nascerem, foi lançada a hipótese. Quando o vírus foi encontrado no líquido amniótico de duas grávidas a relação se tornou ainda mais forte.
“Zika e dengue são vírus diferentes e, embora tenham manifestações parecidas, o zika tem uma estrutura genética mais parecida com a do vírus da rubéola do que da dengue. E a gente sabe que a rubéola causa problemas de má formação e aborto”, afirma Érico Arruda, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Não há tratamento para o zika. Assim como a dengue, o doente é curado com remédios para dor, febre e hidratação. A falta de um exame específico para detectar zika dificulta o diagnóstico no país, afirma Arruda.
Atenção no início da gravidez
O ginecologista e obstetra Manoel Sarno, especialista em Medicina Fetal pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), atendeu a maioria das gestantes com o vírus na Bahia. Os primeiros casos deste ano surgiram em agosto, segundo ele.
Sarno, que tem um grupo de pesquisa sobre zika em grávidas na UFBA, observou que a maioria das gestantes cujos filhos nasceram com microcefalia foi infectada até o terceiro mês de gravidez. “Mas ainda é cedo para afirmar que o vírus realmente causa a má formação. Pretendemos estudar o caso de cem gestantes que tiveram zika para entender o fenômeno. Só estamos esperando o Conselho de Ética aprovar o projeto de pesquisa”, diz.
A decisão de engravidar neste momento deve levar em conta a vontade da mulher e do casal e a situação do vírus no país, segundo os especialistas.
“Esse controle de risco deve ser feito de forma individual e, se a mulher engravidar, tem que fazer as medidas de proteção até mesmo nas áreas de surto. Mas temos que lembrar que o surto tem um curto espaço de tempo”, afirma Sarno.
“Temos que levar em conta que a temperatura vai aumentar, o período de chuva vai chegar, a proliferação vai aumentar. Se eu tivesse uma filha desejando engravidar, eu diria ‘vamos deixar esperar o verão e ver como a vai se comportar a disseminação do vírus no Brasil'”, diz Arruda.