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Crise hídrica no Cerrado: Volume de chuva diminui 38% na bacia do Parnaíba em comparação com a década de 70 

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Entre seis bacias analisadas, a do Parnaíba ocupa o primeiro lugar no ranking de redução da pluviosidade. Levantamento inédito foi realizado no projeto especial Cerrado – O Elo Sagrado das Águas do Brasil, da Ambiental Media (Mídia). 
O volume de chuva na bacia do rio Parnaíba teve uma redução de 38% desde a década de 1970. Esses são alguns dos resultados de uma análise de dados inédita realizada no projeto especial Cerrado – O Elo Sagrado das Águas do Brasil, resultado de 12 meses de investigação conduzida pela Ambiental Media com base em dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do MapBiomas nas bacias do Araguaia, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Taquari e Tocantins.
Entre as analisadas, a bacia do Parnaíba ocupa o primeiro lugar no ranking de redução da pluviosidade. Há ainda outros dados hídricos preocupantes: a vazão mínima de segurança da bacia (Q90) caiu 24% desde a década de 1970 e a evapotranspiração potencial aumentou 7% (índice indica a quantidade de água que o solo e a vegetação devolvem à atmosfera devido à radiação solar e está diretamente ligada às mudanças climáticas).
Síntese de dados da bacia do Parnaíba 
Redução de 24% na vazão mínima de segurança (de 243 m³/s para 185 m³/s)
Aumento de 22.993.800% na área de produção de soja (de 7 ha para 1.609.573 ha)
Redução de 12% na vegetação nativa (de 28.468.101 ha para 24.997.603 ha)
Pluviosidade: queda de 38% (de 80,75 mm/ano para 49,69 mm/ano)
Evapotranspiração potencial: aumento de 7% (de 136 mm/ano para 145,84 mm/ano)
O projeto 
Em uma cooperação técnica (não comercial) focada no processamento de dados, o time da Ambiental teve acesso a grandes volumes de dados da ANA com informações desde a década de 1970. Também foram analisados 37 anos de dados de uso e ocupação do solo do MapBiomas. O trabalho foi realizado sob a coordenação científica de Yuri Salmona – geógrafo, doutor em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília (UnB) e diretor-executivo do Instituto Cerrados.
Dados de vazão de segurança, pluviosidade e evapotranspiração potencial 
As seis grandes bacias tiveram redução de 27%, em média, da vazão mínima de segurança (Q90) entre as décadas de 1970 (1970–1979) e 2010 (2012–2021). A perda equivale a 1.300 m³/s – ou 30 piscinas olímpicas por minuto – e representa um alerta grave sobre a crise hídrica no coração das águas do Brasil. Em apenas um dia, o volume perdido seria suficiente para abastecer o país inteiro por mais de três dias.
O Q90 representa o volume mínimo de água que flui por um rio em 90% dos registros. Os dados de chuva revelaram uma diminuição média de 21% na precipitação considerando as seis bacias hidrográficas estudadas. Paralelamente, a evapotranspiração potencial registrou aumento de 8% em todas as bacias analisadas. Em suma, o cenário no Cerrado é claro: chove menos, a vazão dos rios diminuiu significativamente e mais água está evaporando.
Dados de uso do solo 
Para compreender a crescente demanda por água no Cerrado, o time da Ambiental analisou o avanço do desmatamento e das monoculturas de soja de 1985 a 2022. Considerando as seis grandes bacias, os dados do MapBiomas indicam redução de 22% na vegetação nativa e aumento em quase 20 vezes da área plantada de soja, passando de 620 mil hectares para mais de 12 milhões de hectares.
As águas por um fio 
Conhecido como o “coração das águas do Brasil”, o Cerrado é o segundo maior bioma do país, ocupando 25% do território nacional e abastecendo 8 das 12 regiões hidrográficas brasileiras. Situado, em grande parte, em altitudes elevadas, seu relevo favorece o fluxo de rios e aquíferos. É responsável por 90% da vazão do rio São Francisco e por praticamente toda a água do Pantanal. Sustenta, inclusive, gigantes da Amazônia, como os rios Xingu e Tapajós. Uma das reportagens do projeto mostra, por meio de um infográfico ilustrado e interativo, a intrincada e interdependente relação entre os ciclos hidrológicos dos dois biomas.
Apesar disso, o Cerrado se tornou o principal palco da expansão do agronegócio exportador de commodities, que já ocupa quase metade de sua extensão, segundo o MapBiomas. A situação é agravada pelas mudanças climáticas. Por possuir legislação ambiental menos rigorosa do que a da Amazônia, o Cerrado ficou conhecido como bioma do sacrifício. “Quando o Cerrado é devastado, estamos colocando em risco os recursos hídricos do Brasil, afetando a todos nós”, alerta Salmona.
O desafio de traduzir dados complexos 
“É comum encontrar pessoas indignadas com a escassez de água nas torneiras, ou agricultores temerosos de uma queda de safra diante da irregularidade do clima. Uma dona de casa ou uma proprietária de restaurante se incomodam com a alta de preço dos alimentos. Todos esses públicos, no entanto, não associam essas questões problemáticas com o desmatamento do Cerrado, mas deveriam”, diz Yuri Salmona.
Transformar as extensas bases de dados em conteúdo acessível para um público amplo foi um dos desafios do projeto, desenvolvido ao longo de mais de um ano. “Mais do que o uso de novas tecnologias, o diferencial está na união de especialistas de áreas distintas – jornalistas, cientistas ambientais, analistas de dados espaciais, designers e programadores – para produzir uma narrativa acessível, engajante e assertiva sobre o Cerrado”, explica Thiago Medaglia, diretor-executivo da Ambiental e idealizador do projeto.
As principais descobertas da análise são apresentadas em uma narrativa baseada em mapas 3D e em um dashboard com gráficos inéditos, com dados detalhados das diferentes bacias e camadas analisadas.
O projeto Cerrado – O Elo Sagrado das Águas do Brasil, segundo Medaglia, tem o potencial de colocar a savana mais biodiversa do planeta no centro do debate público. Medaglia ressalta que o bioma, historicamente ofuscado pela Amazônia em discussões e políticas, precisa se tornar protagonista na pauta ambiental. Ele enfatiza a relevância do Cerrado para o abastecimento, a agricultura e a resiliência hídrica do país: “Seja na balança comercial, na torneira de casa ou na conservação de espécies, sem Cerrado, não há futuro viável para o Brasil.”
Sobre a Ambiental 
A Ambiental (Link) é uma organização brasileira sem fins lucrativos dedicada ao jornalismo investigativo baseado em ciência e dados. Nossa missão é ajudar a elevar o padrão do jornalismo científico no Brasil, oferecendo uma cobertura rigorosa e inovadora sobre temas como a emergência climática, a preservação dos biomas brasileiros, a proteção das comunidades tradicionais e a construção de um futuro mais sustentável.
Parceria:
Instituto Cerrados
Cooperação técnica (não comercial): Fornecimento e Processamento de Dados
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Governo Federal
Apoio:
Climate and Land Use Alliance (CLUA)
As opiniões aqui expressas não se destinam a refletir as opiniões políticas da Climate and Land Use Alliance ou de suas afiliadas.
Instituto Serrapilheira
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