A manifestação de boa parte dos terceirizados da Prefeitura Municipal de Teresina (PMT), na frente do Palácio da Cidade (sede do governo municipal), nessa terça-feira (11-2), reivindicando o pagamento de salários atrasados, foi só um indicativo das dificuldades criadas pela administração anterior. Ao tomar posse no cargo, o prefeito Sílvio Mendes herdou, na prefeitura, uma terra quase arrasada, e agora terá que superar uma série de problemas, previstos ou imprevistos, para colocar a casa em ordem e recuperar os estragos deixados por seu antecessor, o ex-prefeito José Pessoa Leal, o Dr. Pessoa.
O cenário de guerra encontrado por Sílvio Mendes foi reconhecido, oficialmente, em nota divulgada pela Secretaria Municipal de Finanças (SEMF), que confirmou ter recebido “da gestão anterior uma situação financeira extremamente delicada com um passivo significativo”. Acrescentou o secretário municipal de Finanças, Edgar Machado Filho, na nota, que o rombo nas contas públicas é tão expressivo que se encontra “ainda em fase de levantamento”. Isso confirma o que a população acompanhou, com perplexidade, ao longo dos quatro anos passados (2021-2024) durante a administração do Dr. Pessoa.
No lamentável período em que permaneceu no Palácio da Cidade, o ex-prefeito exerceu mandato no qual todos assistiram, com frequência, o estado de penúria dos terceirizados tendo que lidar com atrasos salariais. Entre escândalos de corrupção e agruras de toda ordem, o caos instalado no transporte público da capital, até então a única do País a não dispor de um sistema mínimo capaz de permitir o cumprimento do sagrado direito de ir e vir. Traduzindo, o deslocamento de crianças, adolescentes, adultos e idosos foi comprometido.
Total descaso
O total descaso de Dr. Pessoa e sua equipe prejudicaram cidadãos que precisam contar com um serviço público de transporte para poder acessar escolas, locais de trabalho, comércio, postos de saúde, hospitais, etc. Não por acaso entrou em operação e prosperou de forma muito rápida um conjunto clandestino de vans e minivans que, ao lado de motoristas de aplicativo – entre outros tipos de veículos alternativos –, substituíram o velho e carcomido consórcio das empresas de ônibus coletivos. Esse e outros aspectos, portanto, se constituem numa herança realmente desafiadora para o atual prefeito.
O desastre da gestão anterior, por outro lado, facilitou a recondução de Sílvio Mendes ao cargo mais importante do município, e as urnas são reveladoras do quanto foi rejeitada pelo povo a aventura chamada Dr. Pessoa. O ex-prefeito, ao tentar se reeleger nas eleições municipais de 2024, obteve 2,2% dos votos, talvez o mais vergonhoso desempenho de uma candidatura majoritária à reeleição da história da cidade. Não poderia ser diferente. O resultado foi óbvio diante dos índices altíssimos de reprovação popular à administração anterior da prefeitura.
O recado dado nas seções eleitorais de Teresina revelou que populismo barato não é suficiente para convencer o eleitorado teresinense. É preciso resultados concretos, eficazes e inovadores, considerando as profundas mudanças que estão em curso no mundo atual. O problema é que as consequências de tanto desmando estão sendo sentidas pelo comando da PMT, com Sílvio Mendes à frente pela terceira vez. O prefeito tem agora o grande desafio de recuperar o poder público municipal, do ponto de vista administrativo, e buscar soluções para setores, como saúde, transporte e educação.
