Decisões judiciais e administrativas impulsionam conquistas como a retificação de nome e gênero, porém o mercado de trabalho e as políticas públicas ainda demandam evolução
Reportagem/Juliana Castelo
Nos últimos anos, a população transgênero no Brasil conquistou importantes avanços em termos de direitos civis, ainda que não exista uma legislação federal abrangente sobre o tema. Tais conquistas foram alcançadas principalmente por meio de decisões judiciais e administrativas, conforme destaca Claudine Rodembusch, professora do curso de Direito da Estácio.
Entre os principais avanços estão a possibilidade de mudança de gênero biológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que oferece tratamento psicológico, medicamentos hormonais e cirurgias de transgenitalização, além da alteração de nome e gênero no registro civil. A mudança no registro pode ser solicitada em qualquer cartório do país, sem necessidade de advogado, cirurgia ou laudos médicos, segundo o Provimento n. 152/2023 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Para menores de idade, no entanto, a alteração só é possível via judicial.
“No caso específico das pessoas transgênero, seus direitos foram e estão sendo assegurados, em primeiro momento, por interpretação constitucional, levada a efeito por órgão judiciais, notadamente, os Tribunais Superiores e o Supremo Tribunal Federal, com base na inclusão do tema no que diz respeito à dignidade da pessoa humana e na proibição de quaisquer discriminações, como os incisos III e IV do Artigo 1 da Constituição Federal/88. Entretanto, não se dispõem de uma legislação federal abrangente sobre o tema, mas, sim, de Portaria Ministeriais e leis estaduais”, explica Claudine.
Apesar dos avanços, a inclusão efetiva da população transgênero no mercado de trabalho e na sociedade ainda enfrenta grandes desafios. Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) mostram que apenas 4% das pessoas transgênero estão no mercado formal e 90% das travestis recorrem à prostituição como meio de sustento. “A esta realidade se soma os preconceitos estruturais, históricos e sistêmicos contra a população que se inclui na sigla LGBTQIA+, ou a própria omissão legislativa expressa esse preconceito. As formas de discriminação, a seu turno e procurando pela origem de tais problemas, indicam a falta de igualdade de gêneros também no mercado de trabalho. Portanto, se quiser efetivamente, como país, promover a inclusão, em todos os níveis, se teria que desenvolver uma política pública abrangente, via educação, que tratasse de promover igualdade”, afirma a docente.
Entre as estratégias para estimular a inclusão no mercado de trabalho, destacam-se programas de letramento para colaboradores, adoção do nome social nos documentos corporativos e parcerias com organizações como TransEmpregos e EducaTRANSforma. Além disso, políticas de diversidade alinhadas à agenda ESG têm se mostrado ferramentas importantes.