Ter um financiamento recusado pelo banco pode deixar o cliente em dúvida sobre o motivo da recusa, principalmente quando a instituição financeira não dá muitas explicações e não existe nenhum motivo aparente para isso, como uma dívida.
Os critérios utilizados pelo banco para definir a concessão ou não de um empréstimo são considerados estratégicos e sigilosos porque têm um grande peso no desempenho da instituição financeira.
Mas a falta de informação muitas vezes impede que o cliente solucione o problema e melhore sua avaliação no cadastro interno do banco, que pode restringir a concessão de crédito.
Para analisar se deve ou não conceder o empréstimo, a instituição financeira costuma utilizar um sistema de pontuação, chamado de score, que diferencia clientes com maior e menor risco de não honrar o pagamento da dívida.
O score é baseado em informações estatísticas e dados pessoais do consumidor. Cada banco utiliza sistemas complexos e cálculos próprios, aprimorados constantemente, para decidir se vai emprestar ou não dinheiro ao cliente.
Ainda que seja difícil saber exatamente o que leva o banco a recusar o empréstimo, é possível indicar alguns fatores que são determinantes para que o cliente entre na chamada “lista negra” da instituição financeira. Confira a seguir.
1) Dívidas e contas atrasadas
O hábito de não pagar empréstimos em dia ou ficar inadimplente são motivos suficientes para o banco restringir o acesso do cliente ao crédito, mesmo que ele já tenha solucionado essas pendências financeiras.
Quando o consumidor não tem um histórico de utilização de crédito, a instituição financeira pode analisar se ele costuma atrasar o pagamento de contas de telefone, água e luz, por exemplo.
2) Empréstimos altos
Ter um volume grande de dívidas, cujo valor ultrapasse 30% da renda mensal, é outro fator importante para o banco decidir se vai liberar ou não um financiamento, diz Ronaldo Gotlib, advogado especialista em direito do devedor.
Empréstimos longos aumentam as chances de o banco não liberar o crédito. “O risco de descontrole é maior, pois, diante de um problema financeiro, o cliente ainda pode ter um valor alto de débitos a pagar pela frente”, explica o advogado.
3) Negociação de dívidas
Quando o cliente entra em um acordo com a instituição financeira para conseguir pagar uma dívida que virou uma bola de neve, o banco pode conceder um grande desconto para sanar o débito. Mas esse “perdão” pode ter consequências negativas.
Além de diminuir limites de crédito do consumidor em linhas como o cheque especial, o banco também pode restringir seu acesso a financiamentos.
A instituição financeira leva em consideração o prejuízo que teve com a negociação e busca evitar que isso aconteça novamente.
4) Pouca disciplina financeira
O banco pode diferenciar o cliente que tem 100 mil reais em investimentos e ganha 5 mil reais por mês de um cliente que tem 20 mil reais aplicados e uma renda mensal de 10 mil reais: ainda que o segundo correntista receba um salário maior, o primeiro parece ter mais disciplina para poupar.
A relação entre patrimônio e salário influencia na concessão de empréstimos porque indica se o cliente é disciplinado financeiramente e, consequentemente, se terá maior capacidade de honrar compromissos.
A forma como o cliente utiliza os serviços oferecidos pelo banco também influencia a análise de crédito feita pela instituição financeira.
Usar o cheque especial com frequência é visto como um sinal negativo, enquanto utilizar pouco o cartão de crédito e sempre pagar o valor total da fatura pode ajudar o consumidor a obter o empréstimo.
5) Falta de garantias
O banco também pode recusar financiamentos por falta de garantias. A renda do cliente pode até ser suficiente para pagar as parcelas, mas, se ele não possuir bens para oferecer ao banco no caso de falta de pagamento, o empréstimo pode ser negado.
Os imóveis costumam ser o tipo de garantia mais comum e aceito pelas instituições financeiras. “A alienação fiduciária é o instrumento mais utilizado, pois permite transferir a posse do bem à instituição financeira em caso de falta de pagamento”, diz Ronaldo Gotlib.
6) Perfil pessoal
Além do nível de renda, a profissão, o tipo de vínculo empregatício do trabalhador e seu estado civil também têm influência na hora de conseguir um financiamento.
Clientes que tenham renda indefinida, como vendedores que recebem salários baseados em comissões, podem ter maior dificuldade em obter empréstimos.
Já trabalhadores do setor público, que têm maior estabilidade no emprego, costumam ter mais facilidade na obtenção de financiamentos do que profissionais autônomos.
Divorciados, por outro lado, geralmente têm de lidar com perda de renda, o que pode provocar descontrole financeiro e restringir seu acesso a empréstimos.
7) Crises econômicas
Bancos também podem decidir conceder menos empréstimos diante de um cenário pessimista da economia.
Essa mudança leva a instituição financeira a diminuir o nível de risco que pode correr. O banco pode verificar que a expectativa de inadimplência ficou mais alta diante de uma estimativa de aumento na taxa de desemprego, por exemplo.
Ou seja, menos clientes podem ter acesso a empréstimos quando o banco aumenta suas precauções na hora de conceder financiamentos.
Como os imóveis são usados como garantias de empréstimos pelos bancos, uma tendência de queda de preços no mercado imobiliário também pode restringir a concessão de empréstimos.
Caso a instituição financeira precise tomar o imóvel do cliente por falta de pagamento do financiamento, ela corre o risco de ter mais prejuízos se o preço do bem diminuir ou se não subir na velocidade prevista antes.
Quais são seus direitos
Os cadastros internos dos bancos são considerados uma prática legal, pois têm como objetivo proteger a operação da instituição financeira contra o risco de inadimplência dos clientes.
Mas o consumidor tem o direito de saber o motivo que levou o banco a negar o crédito, de acordo com órgãos de defesa do consumidor e advogados.
É possível recorrer à Justiça e recorrer aos órgãos de defesa do consumidor caso o banco se recuse a prestar essas informações.
“A instituição financeira não precisa passar informações detalhadas, como forma de preservar o sigilo dessas operações, mas deve orientar o cliente de alguma forma”, diz Ione Amorim, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
De posse dessas informações, o consumidor deve buscar regularizar sua situação para voltar a ter acesso ao serviço no futuro. “Não existe um prazo determinado para que isso aconteça, mas a condenação não pode ser perpétua”, afirma Ronaldo Gotlib.
Além de explicar o motivo da recusa, a justificativa deve ser razoável. Segundo o advogado, a negação do empréstimo não pode ser causada por um problema pontual, mas, sim, por uma prática recorrente ou uma situação que comprove que o cliente tem alto risco de não honrar a dívida.
Edição: Veja Timon
Via: Exame