No Maranhão, 18,2% das pessoas relataram consumo de altas doses de bebida. Especialista alerta para os riscos ao organismo
“Minha vida parecia girar em torno da bebida. Desde os primeiros anos na universidade, o Bambu Bar, que fica nas proximidades da UFMA, virou a minha sala de aula e perdi o controle”. Quem confessa é o estudante universitário Fernando Cunha, 22, universitário, para quem a trilha sonora pode ser comparada a trechos da música do cantor sertanejo Leonardo: “Segunda-feira eu vou pro bar, terça-feira eu vou também… Beber, beber, beber, beber. Quarta é pra comemorar, Quinta não tem pra ninguém… Beber, beber, beber, beber.” Inicialmente, tudo parecia uma diversão inofensiva. Mas, com o tempo, essa relação com a bebida começou a assumir um controle maior sobre sua vida do que ele jamais imaginara.
Fernando não é exceção. O consumo de álcool realmente aumentou no Brasil: é o que revela o relatório Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. O levantamento aponta um aumento do consumo abusivo de álcool quando comparado com os anos anteriores.
Entre pessoas do sexo masculino, este aumento foi de 25% para 27,3% no período, e entre pessoas do sexo feminino este aumento foi de 12,7% para 15,2%. Quando se comparam os anos de 2010 e 2023, nota-se que houve um aumento significativo do consumo abusivo entre as mulheres, ao passo que, entre os homens, observa-se estabilidade. Esse aumento do consumo pelas mulheres reflete-se no aumento geral percebido ao longo do período, sendo ponto especial de atenção.
Em São Luís, de acordo com o levantamento, 18,2% das pessoas haviam consumido doses consideradas excessivas de álcool nos dias anteriores à pesquisa (cinco doses para homens e quatro doses para mulheres). O percentual é superior a outras capitais do Nordeste como Fortaleza (16,7%) e Natal (15,5%).
Os perigos do excesso
Especialistas alertam para os perigos do aumento do consumo de álcool no Brasil. Valdice de Matos Souza, nutricionista da Facimp Wyden, enumera os principais riscos à saúde associados a esse comportamento. “Aumento de peso, síndrome metabólica, doenças no fígado, problemas gastrointestinais, entre vários outros”, destaca.
Ela explica, ainda, que o impacto vai além das consequências imediatas, afetando a nutrição e o funcionamento do organismo a longo prazo. “A maioria dos órgãos afetados pelo consumo excessivo de álcool está ligada ao trato gastrointestinal. Os riscos de desenvolver carências nutricionais, principalmente desnutrição, são enormes”, explica Valdice.
Estratégias para uma vida equilibrada
Diante desses desafios, quais estratégias alimentares podem ajudar a minimizar os danos causados pelo consumo excessivo de álcool? A nutricionista destaca algumas orientações importantes: “Não consumir bebida alcoólica com estômago vazio, aumentar a ingestão hídrica no dia seguinte ao consumo excessivo, preferir alimentos ricos em proteínas de alto valor biológico e adotar uma alimentação mais saudável, evitando industrializados e bebidas açucaradas.”
No caso de Fernando, a trilha sonora vem tocando cada vez menos, desde que ele buscou ajuda para romper com o ciclo de um vício que o tirou do mercado de trabalho e comprometeu até o seu relacionamento. “Eu não percebia o quão prejudicial isso estava sendo para mim até perder o controle. Hoje, estou buscando ajuda para reconstruir minha relação com a bebida e retomar o controle da minha vida,” finaliza.